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10/02/17 |   Estudos socioeconômicos e ambientais

Falta de assistência técnica faz gastar muito e gastar mal

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Foto: Henrique de Oliveira

Henrique de Oliveira -

Mais da metade dos fazendeiros brasileiros teve grandes prejuízos em 2006 não só porque gastou muito, quando comparado com os produtores que tiveram lucros, mas também porque usou os recursos de forma errada. A razão pode ser a falta de assistência técnica. É o que indicam os dados do Censo Agrícola daquele ano, conforme estudo que avalia a lucratividade na agricultura brasileira.

O estudo dividiu os produtores em cinco faixas de renda e, dentro de cada faixa, separou dois subgrupos: os de renda líquida negativa (rl<0) daqueles de renda líquida positiva (rl=>0). Considerou a despesa média e a renda bruta média por hectare, realizadas em cada faixa de renda. 

 

A composição da despesa média por hectare, em termos percentuais, foi separada em três tipos de gastos: Trabalho (salários), Tecnologias poupa-terra (fertilizantes, defensivos, rações, medicamentos, sementes e sêmen melhorados) e Outros (energia, combustíveis e serviços especializados, como assistência técnica, horas de trator, inseminação, etc.). 

Os dados mostram que esses produtores, em todas as classes, em termos gerais, não só gastaram mais por hectare como tiveram uma renda bruta média, por hectare, significativamente inferior, quando comparados com os produtores bem sucedidos. 

A junção de dados das tabelas 8 e 11 do estudo, numa única tabela, conforme se vê abaixo, permite ter algumas idéias sobre como os produtores aplicaram seus recursos de maneira diferente e obtiveram resultados diferentes e opostos. Para ver isto, é importante não só consultar os percentuais das colunas Trabalho, Tecnologias Poupa-Terra e Outros, mas também multiplicá-los pelos valores da coluna Dispêndio e dividir o resultado por 100.

Tabela A - Dispêndio total, Rendimento e composição dos dispêndios de custeio:

trabalho (salário), tecnologias poupa-terra (insumo) e outros (combustível, energia e serviço).

Classes slm

Renda líquida

Dispêndio

R$/ha

Trabalho (%)

Tecnologias

Poupa-terra (%)

Outros (%)

Rendimento R$/ha

(0 a 2]

rl >=0

133,83

10,58

35,00

54.42

262,65

rl<0

242,34

23,15

42,73

34,12

42,97

(2 a 10)

rl >=0

345,57

12,42

56,27

31,31

685,41

rl<0

388,68

30,58

44,51

24,91

144,47

(10 a 200]

rl >=0

551,35

20,77

55,67

23,56

1.385,13

rl<0

540,28

29,77

48,43

21,80

219,52

200 ou

mais

rl >=0

660,92

24,94

54,73

20,33

2.450,50

rl<0

1.537,68

24,46

54,52

21,02

478,19

Adaptação das tabelas 8 e 11 de ALVES et al, in Lucratividade da agricultura. Revista de Política Agrícola,

ano 21, n. 2, p. 45-63, abr./maio/jun. 2012. Legenda - >=0: maior ou igual a zero; <0: menor que zero

 

De início, dá para perceber que alguma coisa muito errada aconteceu com produtores de renda líquida negativa, na faixa de renda igual ou maior que 200 salários mínimos. Produtores dos dois grupos destinaram percentuais praticamente iguais para cada item de despesa, o que sugeriria semelhanças nas escolhas da gestão tecnológica.

Mas, o nível de dispêndio é tão incrivelmente alto e rendimento tão baixo, que deve ter acontecido algum descontrole muito sério. E isto aconteceu para mais de cinco mil produtores! Eles gastaram, por hectare, 130% a mais do que os bem-sucedidos, mas obtiveram apenas um quinto do rendimento deles. Segundo pesquisadores experientes em operações de produção agrícola, esse rendimento irrisório até pode até ser explicado por catástrofes climáticas, tais como a seca que ocorreu no Sul em 2005, combinadas com preços deprimidos. 

Mas, o dispêndio elevadíssimo só se explica por um incrível desperdício – pouco provável nessa faixa de renda e dimensão de operação – ou por decisões temerárias, tanto na gestão contábil quanto na gestão tecnológica, como “apostar” em operações radicais, tais como transformar grandes áreas de pastagens ou de matas em lavouras, com enormes despesas em preparo, correção e adubação do solo, confiando em preços compensadores e estáveis por longo período. 

A tabela mostra que, até a faixa de renda mensal de 200 salários mínimos, os produtores com renda líquida negativa gastaram muito mais com salários e mão de obra, seja em termos percentuais, seja em termos absolutos, do que aqueles que tiveram lucro. Mais mão de obra pode significar menos mecanização, seja própria, seja contratada, o que certamente significa menor eficiência e menor produtividade do fator trabalho.

A coluna Tecnologias Poupa-Terra mostra, tanto em termos absolutos quanto percentuais, que os produtores mal sucedidos tiveram um comportamento dividido: os das faixas de renda menor (até 2 salários) e maior, investiram mais em insumos modernos que os bem sucedidos; os das faixas intermediárias investiram menos. Mas, todos fizeram, em média, um investimento interessante em insumos modernos. A diferença no dispêndio não justifica o baixíssimo rendimento obtido.

A razão lógica para isto é a falta de assistência técnica, que explica tanto a falha em não usar a tecnologia correta, quanto usá-la e não conseguir que ela renda o esperado. A coluna Outros, que reúne os gastos com energia, combustível e serviços especializados tais como assistência técnica, informa que, em termos percentuais, os mal-sucedidos aplicaram menos nesses itens e reforça essa tese.

No entanto, em termos absolutos, os mal-sucedidos das faixas de maior e menor renda gastaram mais que os que tiveram lucro, mas a falta de assistência técnica pode tê-los feito desperdiçar recursos em energia, combustível e serviços como horas de máquinas com baixa eficiência. O baixo retorno reforça a idéia de que falta de assistência técnica possa ter sido o fator determinante para tanto insucesso.

A conclusão do trabalho é que, de maneira geral, independente da faixa de renda, os produtores têm grandes problemas em administrar a propriedade e em gerir a aplicação das tecnologias para obter os melhores rendimentos. A contratação de assistência técnica contínua nessas áreas pode ser a decisão estratégica para superar os problemas de lucratividade. Além disso, os produtores de menor renda lutam com a falta de acesso a crédito, o que também pode ser equacionado por assistência técnica competente. 

 

 

Renato Cruz Silva (MTb 610/04/97v/DF)
Secretaria de Inteligência e Macroestratégia

Telefone: (61) 3448-2087

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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