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13/04/17 |   Estudos socioeconômicos e ambientais

Distribuição da safra mostra especialização e concentração

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Foto: Edna Santos

Edna Santos -

Estudos, a partir do levantamento da distribuição espacial da safra de 125 produtos da agricultura brasileira, no período de 2006 a 2008, mostraram uma forte tendência à concentração da produção e que, na medida em que os sistemas de produção abandonam métodos tradicionais e se tornam mais intensivos em conhecimento, os estados estavam se especializando nos produtos para os quais tinham maiores vantagens comparativas.

O levantamento integra um conjunto de estudos de dinâmica agrícola, ou seja, de como os cultivos e criações têm se movimentado ao longo do território nacional, feitos por pesquisadores da equipe de estatística agrícola da Secretaria de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Embrapa, com base em dados do IBGE. Nesse estudo eles usaram uma média da produção do três anos considerados. Clique aqui e veja os estudos. 

Segundo Fernando Luís Garagorry, líder do estudo, o caso mais notório é do arroz irrigado no Rio Grande do Sul que, aproveitando-se das terras baixas e alagadas com sistemas de produção cada vez mais eficientes, no triênio 2006-2008 já respondia por 60% da safra nacional. Sabe-se que hoje o estado concentra mais de 70% da produção de arroz agulhinha.

A eficiência produtiva do arroz irrigado gaúcho e a criação de cultivares de soja tropical contribuíram para desalojar do mercado a maior parte do arroz de sequeiro do centro-oeste, onde a cultura era utilizada para “domesticar” os solos de cerrado, antes da implantação das pastagens, função em que foi substituída pela soja.

O Rio Grande do Sul ainda se especializou e, naquele período, concentrava a produção de lã (91%), de erva-mate (57%), de frutas de clima temperado, como uva (52%), noz (51%), pera (49%), pêssego (49%), figo (42%) e maçã (42%), além do trigo (37,58%).

Uma especialização, por razões completamente inversas, foi a do algodão arbóreo, conhecido como “mocó” ou “rasga-letra” que, na Paraíba e outros estados nordestinos, hoje luta desesperadamente contra a extinção. Por sua persistência na seca, nos áureos tempos da cotonicultura nordestina, o algodão mocó era a garantia de que o produtor conseguiria rasgar as “letras”, ou seja, pagar as notas promissórias do crédito rural. O aparecimento do “bicudo” dizimou a lavoura no Nordeste.

A criação das cultivares de algodão arbóreo colorido, pela Embrapa, e o manejo de controle do bicudo lhe deu sobrevida. Em 2008, quando sua produção nacional totalizou exíguas 366 toneladas, a Paraíba respondeu por 60% disso. O Ceará produziu outros 20%.

Esses exemplos confirmam que condições ambientais e disponibilidade de conhecimentos específicos, como esperado, têm grande peso na definição das aptidões e escolhas agrícolas de cada região. No entanto, nos últimos anos, o pesquisador Eliseu Alves tem alertado, em outrois estudos, para a crescente importância de condicionantes de mercado, tais como preço da terra, preço de mão de obra e regulamentos ambientais no processo de especialização agrícola e de concentração da produção nos estados.

Os dados do estudo indicam que já em 2008, em São Paulo, cultivos e criações importantes como café, algodão, leite, carne, feijão, soja, e milho foram desalojados da maioria das grandes fazendas pela cana de açúcar. Sabe-se que a cana sofreu intenso processo de modernização tecnológica e de mecanização, para responder a graves problemas ambientais e de mão de obra, e que também se beneficiou da proximidade da indústria do açúcar e do álcool, tornando-se uma lavoura extremamente competitiva no estado.

O estudo mostra que, em 2008, São Paulo se especializou e se tornou maior produtor nacional de cana de açúcar (59% da safra) e de produtos de maior valor agregado tais como chá da índia (94%), laranja (79%), limão (78%), seringueira (55%), caqui (50%), abacate (47%), tangerina (42%), goiaba (32%), madeira para celulose (29%), ovos (27%) e galinhas (20,6%). Tornou-se também o segundo em batata-inglesa, tomate (20%), frangos (18%), banana (16,7%), manga (15%) e uva (14,5%).

Cultivos e criações cuja economicidade requerem maior escala, leia-se  uso de grandes áreas , migraram para as terras dos cerrados do sudeste, do centro-oeste, norte e nordeste, que eram mais baratas e cujo clima permitia mais de uma safra no ano. Segundo o estudo, Minas Gerais se especializou em eucalipto para carvão (76%), café (49% da produção), leite (27,8%), feijão (15,3%), milho (11,6%) e bovinos de corte (11%). Mato Grosso concentrou algodão (52%), soja (28,4%), bovinos de corte (12,8%) e milho (11,8%).

Na Bahia floresceram o algodão (28%), o feijão (9,9%) e até mesmo o café (6,1%). Em Goiás, a soja (10,9%), o leite (10,3%), os bois (10,1%), o milho (8,2%), o feijão (7,4%) e o algodão (7,1%). O Mato Grosso do Sul se concentrou em bois (11%), soja (8%), milho (5,9%) e algodão (4,1%).  O Pará também se especializou em bovinocultura de corte (8,1% da safra nacional).

É fato conhecido que todas essas movimentações da safra foram viabilizadas pela disponibilidade de conhecimentos e tecnologias que estruturaram sistemas de produção mais eficientes e rentáveis e conduziram à concentração da produção. Em algumas situações, os fatores de mercado combinados com conhecimentos e tecnologias permitiram que os estados não só desenvolvessem suas aptidões agrícolas tradicionais e concentrassem a produção de bens históricos, bem como adotassem novos cultivos e criações típicos de outras regiões.

Em 2008, o estudo mostra que o Pará era o maior produtor de dendê (83%), de pimenta do reino (82%), de madeira em tora (54%), de búfalos (38%) e de mandioca (18%), e o segundo maior produtor de cultivos adaptados como o cacau (20,6%), o abacaxi (19%) e o côco-da-baía (12,7%). Mas era apenas o terceiro na produção de castanha-do-pará (21%), superado pelo Acre (35,7%) e Amazonas (30,1%).

A Bahia, além de já ser a terra do cacau (67%) e do côco da baía (30%) e de ter adotado, com sucesso, a soja, o algodão e o café, se tornou o maior produtor de guaraná (57%), de mamão (48%), de manga (47,5%) e da banana (19%) e o segundo em dendê (17%) e seringueira plantada (13,8%).

Pernambuco se tornou o segundo produtor de goiaba (31,6%) e o terceiro de uva (12,1%). Ceará substituiu e concentrou a produção de castanha de caju obtida de pomares plantados (48,6%) e a extração do pequi (48,8%), superando Minas Gerais e Goiás, e se tornou o segundo produtor de melão (38%), logo atrás do Rio Grande do Norte (43,2%).

A lista de produtos inclui itens desconhecidos pela maioria das pessoas tais como casca de angico e de barbatimão, palha de buriti, pó de palha de carnaúba, piaçava e nó de pinho, outros pouco conhecidos como triticale e tungue, e outros ainda, como o açaí, que se tornaram conhecidos fora de suas regiões. Os pesquisadores aguardam o novo censo agrícola para conferir se as tendências verificadas até 2008 permanecem ou foram alteradas.

 

Renato Cruz Silva (MTb 610/04/97v/DF)
Secretaria de Inteligência e Macroestratégia

Telefone: (61) 3448-2087

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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