23/05/11 |

Pesquisa estuda biodiversidade de fauna e recuperação de APP em propriedades de cana orgânica

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Propriedades rurais que optaram pelo cultivo orgânico e o manejo agroecológico da cana-de-açúcar são palco para estudos da Embrapa Monitoramento por Satélite sobre avaliação da biodiversidade. A Unidade da Embrapa, localizada em Campinas (SP), possui um histórico de atuação na região de Sertãozinho (SP) e já levantou dados sobre a fauna silvestre presente em propriedades rurais. No último mês, um contrato de parceria foi assinado pela Embrapa, Usina Santo Antônio S/A e Fundação Arthur Bernardes (Funarde) dando início a novos estudos, desta vez para qualificação e recuperação de áreas de preservação permanente (APP).

O projeto vai se concentrar numa área de mais de 220 km2 e os resultados servirão de base para a elaboração de um programa de conservação e recuperação da cobertura vegetal das APPs. Através de imagens de satélite e incursões em campo, as áreas de APP serão qualificadas e quantificadas a partir de mapeamentos georreferenciados. Com base nas situações apresentadas, será estabelecida uma tipificação em termos ambientais e indicado o grau de intervenção e ações corretivas correspondentes para cada caso. "O objetivo é traçar um plano de gestão e acompanhamento para a efetiva implantação e conservação da cobertura vegetal das APPs para que elas venham a desempenhar seu papel de provedor e mantenedor da biodiversidade animal e vegetal", explica o coordenador do projeto, o pesquisador José Roberto Miranda. Os resultados e o protocolo metodológico utilizado serão passíveis de aplicação e orientação em outras situações similares de restauração de APPs.

Biodiversidade faunística

Há mais de oito anos a Embrapa Monitoramento por Satélite trabalha na avaliação da biodiversidade de fauna silvestre em propriedades rurais da Usina São Francisco, também na região de Sertãozinho. As propriedades estudadas adotaram o sistema de produção orgânico associado ao manejo agroecológico. Entre 2002 e 2011, foi monitorada a evolução das riquezas específicas nos habitats mapeados e avaliado o grau efetivo de implantação dos povoamentos faunísticos. Só no último ano, foi registrado um acréscimo de mais de uma dezena de espécies, totalizando 317 detectadas e identificadas (27 anfíbios, 17 répteis, 234 aves e 39 mamíferos). Entre os habitats das fazendas, incluindo os canaviais orgânicos, foi detectada inclusive a ocorrência de 34 espécies de vertebrados selvagem sob algum risco ou ameaça de extinção no Estado de São Paulo. Além de obter resultados sobre a biodiversidade, o projeto visa desenvolver métodos e critérios científicos para estudos faunísticos em território delimitado.

Os resultados obtidos surpreenderam pelos elevados índices de riqueza e de biodiversidade faunística encontrados nestas áreas agrícolas, mesmo quando comparados a ecossistemas naturais. Na comparação com sistemas agrícolas de cana convencionais, embora não definitiva, a análise indica um número de espécies de animais silvestres 20% superior nos canaviais orgânicos. Há ainda uma originalidade 40% superior em espécies nesses canaviais, indicando um povoamento mais rico e com espécies mais adaptadas a ambientes estáveis ecologicamente. A riqueza total de vertebrados encontrada em canaviais convencionais foi de 73 espécies. Nos canaviais em sistema orgânico a riqueza total atingiu 89 espécies de vertebrados e com espécies mais exigentes ecologicamente, cujo número total somou 23, enquanto nos canaviais com queima chegou a nove. "Os canaviais convencionais apresentam uma cadeia alimentar representada por espécies generalistas e pouco exigentes quanto ao tipo de alimento, somente 5% são carnívoros. Enquanto nos canaviais orgânicos os carnívoros chegam a 18% do total das espécies", explica o pesquisador José Roberto Miranda. Nos levantamentos foram empregadas iscas e máquinas fotográficas tipo armadilha para detectar a presença de uma série de animais. O acréscimo estimado de espécies predadoras foi qualificado como um indicador do aumento da complexidade da rede alimentar e dos recursos disponíveis no local e no entorno.

As usinas Santo Antônio e São Francisco, cujas propriedades são abrangidas pelos trabalhos da Embrapa, pertencem ao Grupo Balbo, que produz o açúcar orgânico da marca Native. O Grupo está entre os maiores produtores mundiais de açúcar e álcool orgânico e o sistema adotado nas fazendas que abastecem as usinas é o de colheita mecanizada da cana crua, sem a necessidade de queimadas.

Graziella Galinari (MTb 3863 / PR) Embrapa Monitoramento por Satélite graziella@cnpm.embrapa.br

Fone: (19) 3211-6200

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/