08/08/14 |   Produção vegetal

Seringueiras tricompostas para resolver desafio de um século

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Foto: Felipe Rosa

Felipe Rosa - Coleta de látex da seringueira

Coleta de látex da seringueira

Pesquisadores da Embrapa desenvolveram árvores tricompostas de seringueira para resolver um problema que ataca os plantios há quase um século e inviabiliza o plantio comercial na Amazônia. Por meio de pesquisas que duraram quatro décadas, eles conseguiram realizar cruzamentos entre espécies diferentes de seringueiras e selecionar os melhores clones para formar, por meio de enxertos, as árvores tricompostas que são produtivas e resistentes ao fungo Microcyclus ulei, causador do mal-das-folhas. A doença inviabiliza a expansão de plantios comerciais na região da floresta tropical úmida.

O nome "tricomposta" deve-se ao fato de que três partes da árvore - a base, o tronco e a copa - são formadas a partir de outras plantas de seringueira, combinadas por meio de enxertias.
Para formar o porta-enxerto, base da seringueira, são utilizadas sementes selecionadas de Hevea brasiliensis. O tronco, chamado de ‘painel', vem da enxertia de um clone de outra seringueira dessa mesma espécie, comprovadamente produtiva em látex. Por fim, a copa é oriunda de clone resistente ao mal-das-folhas, resultado de cruzamentos entre seringueiras das espécies Hevea guianensis, Hevea pauciflora e Hevea rigidifolia.

Ao todo, são necessários 25 meses para formar a muda de tricomposta, desde a semente até a fase de plantio. Durante esse tempo, são feitas as duas enxertias, além do manejo necessário para o desenvolvimento da planta. "Mesmo com um ano a mais para produção dessa muda e custo maior, ela dá o retorno econômico ao longo do tempo porque produz mais cedo e com qualidade", explica o pesquisador Everton Cordeiro, responsável pelas pesquisas com a cultura de seringueira, conhecida como heveicultura, na Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus (AM). Ele explica que a tricomposta começa a produzir látex a partir de seis anos, um ano mais cedo que as seringueiras convencionais. A produção se estabiliza entre nove e dez anos e o plantio bem manejado pode ser explorado por 30 a 35 anos.

40 anos de pesquisa

Foram necessários 40 anos de pesquisa para definir as combinações adequadas para as seringueiras tricompostas. Esse tempo incluiu as etapas de polinização controlada para os cruzamentos, condução de plantios, avaliações e seleção das plantas compatíveis e com melhor desempenho. Boa parte desse trabalho foi executada pelo engenheiro agrônomo Vicente Haroldo de Figueiredo Moraes, que iniciou suas atividades com seringueira ainda no Instituto Agronômico do Norte (IAN), na década de 60, em Belém (PA). Foi pesquisador da Embrapa, desde 1974 com a fundação do Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira, em Manaus (AM), até a atual Embrapa Amazônia Ocidental, onde se aposentou em 2005. Faleceu em 2008 deixando entre suas principais contribuições os cruzamentos e a seleção inicial de clones para a atual tecnologia da seringueira tricomposta.

"É um trabalho demorado e laborioso. Se hoje temos clones em condições de resistência é porque foi empreendido muito esforço ao longo do tempo", avalia o pesquisador Everton Cordeiro, que ingressou na Embrapa em 2010, e deu continuidade às pesquisas de Moraes refinando a seleção de clones produtivos e com resistência estável ao mal-das-folhas.

No experimento mais recente implantado em 1999 na Embrapa, em Manaus, foram feitas avaliações de 11 clones de copas de seringueira, selecionadas por Moraes. Avaliando a produção dessas árvores no período de 2005 a 2010, Cordeiro selecionou cinco clones com melhores resultados para produção de borracha seca, entre os quais se destacam três clones com melhor desempenho em ganho de produção.

Na fase atual, além de pesquisas para o melhoramento, está sendo realizado um projeto de transferência de tecnologias em heveicultura. Fazem parte das ações a produção de mudas da tricomposta e capacitações de técnicos para que os conhecimentos gerados e as tecnologias de clones resistentes e produtivos cheguem em 20 municípios do Amazonas, ainda em 2015.

Alta variabilidade do fungo

Uma nova abordagem na pesquisa para viabilizar cultivos de seringueira na Amazônia tem sido o uso de ferramentas da biologia molecular para o estudo do fungo Microcyclus ulei. A alta variabilidade desse microrganismo tem causado instabilidade na resistência de clones ao mal-das-folhas, conforme constatou o pesquisador Braz Tavares Hora Júnior, em sua tese de doutorado desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa (UFV), sob orientação do professor Eduardo Mizubuti.

O estudo foi realizado de 2009 a 2012 a partir de análises de marcadores microssatélites do tipo SSR em amostras de populações do fungo coletadas em plantios comerciais em oito estados brasileiros. A pesquisa contou com a parceria das Plantações Michelin da Bahia e do projeto de melhoramento genético da seringueira Cirad-Michelin-Brazil, Projeto CMB.

Atualmente Braz Júnior e Mizubuti integram um grupo de pesquisa sobre o Microcyclus ulei e coordenam projetos para entender a evolução das populações do fungo. Braz conta que esse grupo de pesquisa está conduzindo o sequenciamento do genoma do fungo do mal-das-folhas. Essas informações serão importantes nos estudos de evolução do patógeno para predizer a eficiência da durabilidade da resistência. Participam desses estudos também pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental e Embrapa Acre.

Outro trabalho importante na área são as pesquisas do Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad), na França, que estão elucidando a base genética da resistência de H. brasiliensis ao mal-das-folhas e o transcriptoma da interação.

Melhoramento genético

Para fortalecer e ampliar as pesquisas com seringueira em vários estados brasileiros está sendo mobilizada ampla rede de pesquisadores de diversas especialidades, envolvendo oito Unidades da Embrapa e sete instituições federais e estaduais de pesquisa, reunidos no projeto de pesquisa "Melhoramento genético da seringueira no Brasil". Esse trabalho integra o Portfólio de Recursos Florestais Nativos, financiado pelo Macroprograma 2 da Embrapa.

Uma das preocupações que motivam esse esforço nacional é o fato de a heveicultura brasileira estar apoiada em poucos clones importados do sudeste asiático. Para superar essa dependência, o projeto pretende gerar, testar, avaliar e selecionar novas cultivares de seringueira para plantio em diversas regiões do País.

O líder do projeto é o pesquisador Marcelo Fideles Braga, da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF). Participam centros de pesquisa da Embrapa nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Tocantins, Goiás, São Paulo, e Distrito Federal, além da parceria da Comissão Executiva do Planejamento da Lavoura Cacaueira da Bahia (Ceplac-BA), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar-PR), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
 

Síglia Regina dos Santos Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental

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