27/10/15 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo - Principais pragas do cafeeiro no contexto do manejo integrado de pragas

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Kátia Braga

Kátia Braga - Florada de café

Florada de café

No Brasil, o café tem uma importância muito grande na história do país. O café foi a nossa maior riqueza por muito tempo, proporcionando um rápido desenvolvimento do país e propiciando a vinda de imigrantes, o surgimento de várias cidades, a construção de redes ferroviárias para o transporte da produção, e finalmente, a consolidação da expansão da classe média e de seus movimentos culturais.

O Brasil além de ser o maior produtor mundial de café, com colheita de 40 milhões de sacas/ano, é também o maior exportador mundial e o segundo maior consumidor, perdendo a primeira posição apenas para os Estados Unidos da América. No Brasil, as duas principais espécies de café cultivadas são o café arábica (Coffea arabica) e o café robusta (Coffea robusta), sendo o Brasil o maior exportador mundial de café arábica e o segundo maior exportador de café robusta.

A planta de café é uma planta perene C3 que possui ramos laterais primários longos e flexíveis contendo também ramos secundários e terciários. Seus ramos podem ser divididos em ramos ortotrópicos, que crescem verticalmente e os ramos plagiotrópicos que crescem horizontalmente e são os ramos que originaram as flores e consequentemente os frutos de café.

A fenologia de desenvolvimento de uma planta de café é de 2 anos, passando por 6 fases desenvolvimento. A primeira é a de vegetação da planta e formação das gemas vegetativas, com duração aproximada de 7 meses. A segunda fase é caracterizada pela indução do crescimento e dormência das gemas florais, com duração aproximada de 5 meses. A terceira consiste da formação das flores e dos frutos de café no tamanho de chumbinhos, e leva em torno de 4 meses para desenvolver. A quarta fase se caracteriza pela granação dos frutos e dura em torno de 3 meses. Na quinta fase ocorre a maturação dos frutos e leva em torno de 3 meses; e por último ocorre a sexta fase que compreende a senescência dos ramos que representa a "auto-poda" da planta e possui a duração média de 2 meses.

Inúmeras são as pragas de importância econômica encontradas atacando o café no campo. Podem prejudicar o desenvolvimento e a produção das plantas e devem ser constantemente monitoradas no campo, para que sejam adotadas as medidas de controle a fim de que o nível de dano econômico das pragas seja respeitado.

 

Algumas pragas de importância econômicas que atacam as plantas de café


Broca-do-café - Hypothenemus hampei (Coleoptera: Scolitidae)


A broca-do-café é uma praga bastante prejudicial ao cafeeiro e ataca os frutos em qualquer estádio de maturação. As infestações da broca-do-café podem ser influenciadas por diversos fatores, tais como o clima, a colheita, o sombreamento, o espaçamento e a altitude. Níveis a partir de 30% de infestação são prejudiciais a produtividade e qualidade do café. Os machos da broca-do-café apresentam as mesmas características morfológicas das fêmeas, porem são menores com asas rudimentares e possuem o comportamento de não saírem dos frutos onde se originam. As fêmeas, após o acasalamento, perfuram a região da coroa, ovipositam em câmaras feitas nas sementes. Após 4 a 10 dias da postura, nascem as larvas passam a broquear as sementes degradando o interior dos frutos de café. O período larval é de 14 dias, o período de pupa é de 7 dias em média, sendo que o desenvolvimento completo dura de 27 a 30 dias. Os prejuízos causados pela broca-do-café afetam a classificação e beneficiamento do mesmo, comprometendo a bebida do ponto de vista comercial.

A forma mais adequada para acompanhar a infestação da broca-do-café e para a tomada de decisão dos métodos de controle a serem utilizados é fazer a amostragem mensal dessa praga no cafezal principalmente no período de novembro até cerca de 70 dias antes da colheita. Outra sugestão é iniciar a amostragem quando os frutos estiverem na fase de chumbo e chumbões, período em que as sementes já estão formadas e, portanto, fase em que a broca perfura o fruto, podendo ovipositar no fruto.

Bicho-mineiro  - Perileucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae)


A mariposa do bicho-mineiro é bem pequena, apresentando 6,5 mm de envergadura, asas brancas na parte dorsal. Sua postura ocorre durante a noite, com média de 7 ovos, colocando um ovo por folha, e durante o dia permanece na parte inferior das folhas. Nas infestações, a lagarta penetra na folha e aloja-se entre as duas epidermes, começando a alimentar-se e a construir minas, daí o nome bicho-mineiro. A ocorrência do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores. Entre esses fatores destacam-se as condições climáticas, sendo que a precipitação pluvial e a umidade relativa do ar influenciam negativamente na população da praga, ao contrário da temperatura, que exerce influência positiva; também a presença ou ausência de inimigos naturais como parasitoides, predadores e patógenos e diferenças de espaçamentos favorecem às infestações dessa praga. A larva do bicho-mineiro eclode de 5 a 21 dias após a postura, e penetram nas folhas ficando entre as duas epidermes, causando a destruição do parênquima, consequentemente causam diminuição da área fotossintética e provocam queda das folhas. O período larval desta praga dura de 9 a 40 dias, formando um casulo em forma de X, no baixeiro do cafeeiro. Já o período de pupa dura de 5 a 26 dias e os adultos sobrevivem em média cerca de 15 dias.


A amostragem de bicho-mineiro em cafeeiros de até 3 anos de idade deve ser realizada quinzenalmente no início quando os primeiros danos aparecem nas folhas e neste caso, o controle do bicho-mineiro deve ser iniciado quando for encontrado 30% ou mais de folhas minadas nos terços médio e superior das plantas de café.

Ácaro vermelho  - Oligonychus ilicis (Acari: Tetranychidae)


Em condições de seca, com estiagem prolongada, o ácaro vermelho encontra condições ideais ao seu desenvolvimento. O ataque do ácaro vermelho ocorre em reboleiras e, em casos graves, pode se espalhar para toda a plantação de café. O ataque dos ácaros é mais sério nas áreas mais ensolaradas, com manchas de solo mais secas e próximas as estradas, já nas áreas mais sombreadas ou arborizadas o ataque é bem menor. As fêmeas dos ácaros medem cerca 0,5mm de comprimento com pernas e terço do corpo alaranjada. Os ovos são de coloração vermelho intenso, brilhante e esférico. O ciclo do ácaro-vermelho-do-cafeeiro é de 11 a 17 dias. Ele vive na parte superior das folhas do cafeeiro, que ficam recobertas por pequenas quantidades de teia.

Frequentemente observa-se aumento da infestação de ácaro vermelho associado a aplicação de piretróides sintéticos para combater o bicho-mineiro, bem como ao uso de fungicidas cúpricos para combater a ferrugem-do-cafeeiro. Esses agrotóxicos desequilibram e promovem o aumento da população do ácaro vermelho.

Cigarrinhas (Hemiptera: Cicadellidae)


As cigarrinhas são insetos sugadores que se alimentam em vasos do xilema de uma vasta gama de plantas hospedeiras e pertencem às famílias Cicadellidae, Cercopidae e Cicadidae. As cigarrinhas possuem tamanho e coloração variado, sendo que as fêmeas colocam ovos recobertos por uma camada de cera branca. Inúmeras são as espécies que possuem condições de se alimentar nas plantas de café, porém pouco trabalho de levantamento populacional de cigarrinhas foi realizado até o momento. No entanto, recentemente foi apresentado uma lista de 141 espécimes de cigarrinhas coletadas em plantações de café.

As cigarrinhas são insetos importantes porque além de sugarem a seiva das plantas, elas também podem transmitir a bactéria Xylella fastidiosa para plantas de café, citros, e ameixa sendo "Atrofia dos Ramos do Cafeeiro" (ARC), "Clorose Variegada dos Citros" (CVC), e "Escaldadura das Folhas da Ameixeira" (EFA) respectivamente, o nome das doenças.

Inúmeras são as cigarrinhas vetoras de X. fastidiosa, no entanto, em citros destacam-se as espécies Dilobopterus costalimai, Oncometopia facialis, Acrogonia terminalis, Bucephalogonia xanthophis, Plesiommata corniculata, Ferrariana trivittata, Macugonalia leucomelas, Parathona gratiosa, Sonesimia grossa, Acrogonia virescens e Homalodisca ignorata. Já para as plantas de café, somente foi comprovada a transmissão da bactéria X. fastidiosa pelas espécies D. costalimai, O. facialis, B. xanthophis e H. ignorata.

A cigarrinha B. xanthophi tem importância especial porque é muito encontrada em pomares em formação e, provavelmente, é a maior responsável pela transmissão da CVC para mudas cítricas e também é constantemente encontrada em cafezais. Esta cigarrinha também encontra-se presente em plantas invasoras do pomar. Os ovos são translúcidos e depositados em pares. O adulto mede, no máximo, 0,5 cm de comprimento, é de coloração esverdeada e a terminação de suas asas é transparente.

A amostragem das cigarrinhas pode ser realizada através da utilização da rede de varredura, succionador motorizado, amardilha de Malaise e armadilha adesiva amarela. Entretanto, a armadilha adesiva amarela, além de ser mais prática, por ficar no campo até 15 dias, também nos mostra dados de flutuação populacional das cigarrinhas na área.

O MIP é essencialmente um sistema de apoio de tomada de decisões no controle de pragas, considerando os impactos ecológicos, econômicos e sociais. O sucesso do MIP depende da conscientização dos produtores agrícolas, dos consumidores, dos pesquisadores e até mesmo da indústria de agrotóxicos, sobre a necessidade de reduzir o impacto ambiental da produção de alimentos e procurar alternativas compatíveis com as características ecológicas e econômicas locais.

Portanto, a identificação das pragas e o seu monitoramento no campo em conjunto com dados sobre a fenologia e desenvolvimento da planta, e da presença de inimigos naturais presente em determinada área devem ser levados em consideração para a tomada de decisão sobre o sistema integrado de medidas de controle (físico, químico, mecânico, biológico, genético e cultural) a ser utilizado. O MIP não é apenas a adoção de várias técnicas para controlar pragas, mas a utilização de uma forma harmoniosa dos métodos de controle específicos para cada cultura e/ou inseto a fim de manter a densidade populacional de uma determinada praga abaixo do nível de dano econômico.

Simone de Souza Prado, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP
Joáz Dorneles Junior, eng. agrônomo, estudante de mestrado em Proteção de Plantas da Unesp, Botucatu, SP.

Embrapa Meio Ambiente

Contatos para a imprensa

Telefone: (19) 3311.2608

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/