A quantidade de comida que vai para a lixeira na sua casa pode parecer um prejuízo pequeno. Mas imagine todas as residências do seu bairro desperdiçando cada uma um pouquinho. Some agora o desperdício em todos os bairros da cidade, todas as cidades do seu estado e a coisa começa a mudar de figura.
Além do prejuízo financeiro de cada indivíduo ou família, o desperdício de hortaliças embute um alto custo para toda a sociedade, quando pensamos em tudo que foi gasto para produzir este alimento. Depois, é preciso recolher e tratar estes resíduos, o que implica em gasto de dinheiro público. Quando o resíduo não é descartado de maneira adequada, temos outro prejuízo para a sociedade, devido à contaminação do meio ambiente.
Você já se perguntou que caminhos percorreram as hortaliças até chegar à sua casa? Sabe quantas pessoas trabalharam e quantos insumos foram gastos para colocar as hortaliças na sua mesa? Quando esse texto está sendo escrito, no primeiro semestre de 2021, cerca de 85 % da população brasileira vive em cidades e o restante, 15 % vive na área rural. É razoável supor que uma parte da população urbana tenha pouca ou nenhuma convivência com a produção de alimentos no seu dia a dia e desconheça todo o trabalho e recursos envolvidos na produção das mesmas.
A agricultura é uma atividade de grande impacto no ambiente. Áreas de vegetação nativa são desmatadas para dar lugar às plantações; a lavoura deve ser irrigada com a água proveniente da mesma fonte que abastece as cidades e mais água é usada para lavar as hortaliças e as caixas nas quais elas são acondicionadas. Durante a condução da lavoura são usados adubos e, na maior parte das vezes, pesticidas, naturais ou sintéticos, que deixam resíduos no ambiente e há gasto de combustíveis para movimentar as máquinas agrícolas e de energia para selecionar e embalar as hortaliças.
Esse impacto será tanto menor quanto mais cuidadoso for o agricultor e há uma série de tecnologias agrícolas que reduzem esse impacto. A produção agroecológica, orgânica, a produção integrada e a agricultura de precisão são exemplos de formas de produção que buscam, por diferentes caminhos, uma produção mais sustentável de alimentos. Mas não há impacto zero na produção de alimentos, seja qual for o sistema de produção.
Todo alimento tem um custo de produção que inclui os insumos (fertilizantes, água, combustíveis, energia elétrica…) e mão-de-obra utilizados na sua produção. Se parte da produção de hortaliças é desperdiçada, junto com ela são desperdiçados os insumos usados para produzi-la. Também será preciso produzir mais hortaliças para compensar a perda, e consequentemente, usar ainda mais insumos.

Fotos: Milza M.Lana; photosforyou, por Pixabay; Aneta Pawlik, por Unsplash; Biserka Stojanovic_por iStock
Um modesto repolho, por exemplo, requer uma série de insumos para sua produção. Segundo cálculos da Emater do DF(¹), um produtor rural consegue colher 3 mil sacos de repolho em um hectare de lavoura. Um hectare é uma área equivalente a um campo de futebol e cada saco de repolho pesa em média 20 kg.
Pois bem, para cultivar um hectare de repolho o produtor rural gasta em média 11 toneladas de adubo, 37.000 sementes, 22 sacos de substrato para produzir as mudas, 16 kg de agrotóxicos (caso seja no sistema convencional), 1.101 kilowatts de energia para irrigação, uma quantidade variável de água a depender do regime de chuvas e 3.000 sacos para embalar os repolhos. Todos estes serviços, do plantio ao ponto de embalar, demandam 107 dias de trabalho com jornada diária de 8 horas, quando consideramos que um único trabalhador se encarrega de todas as tarefas. Adicionalmente, é preciso o equivalente a 13 horas de trabalho com o trator, que por sua vez, precisa de óleo diesel para funcionar. Isso sem contar os gastos com transporte até o alimento chegar ao mercado. Levando tudo isso em conta, reduzir o desperdício de alimentos significa reduzir todos estes impactos de consumo de recursos associados à sua produção.