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Especial: Sanidade Animal

Peste Suína Africana

A doença

A Peste Suína Africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus composto por DNA fita dupla, pertencente à família Asfarviridae. A doença não acomete o homem, sendo exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos).

A PSA tem sido observada desde o início do século 20 no sul e leste africanos e inicialmente era caracterizada pelos aspectos clínico-patológicos semelhantes à peste suína clássica (PSC). No entanto, posteriormente foi observado que as duas enfermidades são distintas. A suspeita inicial da enfermidade baseia-se principalmente na observação dos sinais clínicos de doença hemorrágica, porém o uso de técnicas laboratoriais, como as moleculares, é imprescindível para a confirmação do diagnóstico.

Na década de 1960, o vírus da PSA chegou à Península Ibérica (Portugal e Espanha), permanecendo endêmico até os anos 1990 no oeste europeu. Nos anos 1970, o vírus foi detectado em suínos domésticos em alguns países na América Latina (Cuba, Brasil, República Dominicana e Haiti), mas os surtos logo foram contidos e a doença erradicada.

Em 2007, a doença foi identificada na Geórgia (Eurásia), com disseminação do vírus para a Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. Em 2014, a PSA alcançou a Europa (Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia); em 2016, a Moldávia; e, em 2017, a República Tcheca e a Romênia. Em setembro de 2018, o vírus da PSA foi detectado em suínos de subsistência na China e na Romênia e em javalis na Bélgica. Nestes surtos, a fonte de infecção não foi identificada.

Em julho de 2021, na República Dominicana, o diagnóstico confirmatório foi realizado pelo Laboratório de Diagnóstico de Doenças de Animais Exóticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Como parte do Plano de Contingência para a Erradicação da Peste Suína Africana que o governo executa para conter a propagação do vírus, foi realizado o saneamento, como preconizado pela OIE e a indenização dos suinocultores.

A PSA é uma doença de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, com potencial para rápida disseminação e com significativas consequências socioeconômicas.

O impacto da introdução da PSA nos Estados Unidos foi estimado em US$ 16,5 bilhões apenas no primeiro ano de surto. Uma avaliação superficial do prejuízo da introdução do vírus na população de suínos do Brasil, população esta que é cerca de dois terços menor que a americana, ficaria em torno de US$ 5,5 bilhões, baseado no número de suínos abatidos por ano.

Porém, fica difícil estimar os custos para o cenário brasileiro, devido às particularidades da produção, diferenças nos sistemas de vigilância e monitoria, somado ao aprendizado recente dos Estados Unidos com os surtos de diarreia epidêmica suína (PED) e influenza aviária (IA), bem como o poder de negociação daquela economia.

Ainda, a presença do vírus em um país tem impacto direto no comércio internacional de suínos e de produtos de origem animal. Além disso, na ocorrência de surtos de PSA, é obrigatório o abate sanitário dos animais e destinação adequada das carcaças.

Não existe vacina ou tratamento para a PSA.

Observações clínicas da doença

O período de incubação (em geral de 4 a 19 dias) e a severidade da doença estão relacionados a diferentes fatores, como, por exemplo, à virulência da cepa viral, à via e dose de infecção e ao status imune do hospedeiro. A doença se caracteriza principalmente por sua forma hemorrágica. Todavia, as manifestações clínicas variam de uma doença hiperaguda a crônica, além da ocorrência de animais portadores.

Na forma hiperaguda, ocorre morte súbita com poucos ou nenhum sinal clínico. A forma aguda é caracterizada por febre alta (40ºC a 42ºC), perda de apetite, letargia, hemorragias na pele (especialmente nas orelhas e flancos) e órgãos internos e alta taxa de mortalidade em 4 a 10 dias. Cepas menos virulentas ocasionam sinais clínicos leves e muitas vezes inespecíficos - febre ligeira, apetite reduzido, depressão, sinais respiratórios e aborto - que podem ser prontamente confundidos com muitas outras enfermidades em suínos e podem não levar à suspeita de PSA.

Animais que se recuperam de infecções se tornam portadores do vírus, constituindo os maiores problemas no controle da doença.

Fontes de infecção e inativação viral

Carne e subprodutos cárneos, carcaças, secreções e excreções de suínos domésticos ou asselvajados infectados pelo vírus da PSA são as principais fontes de infecção. Na natureza, os animais mortos são a grande fonte de infecção, porque o vírus permanece viável mesmo durante o processo de decomposição.

O vírus é estável em um amplo intervalo de temperaturas e pH (4 a 10), não é inativado pela refrigeração e nem pela maturação da carne. O vírus da PSA pode permanecer infeccioso por 11 dias nas fezes, por meses na medula óssea, por 15 semanas na carne refrigerada e congelada, e entre 3 e 6 meses em presuntos e embutidos curados não cozidos ou defumados.

A inativação do vírus da PSA em tripas de bovino inoculadas experimentalmente, e tratadas pela salga (cloreto de sódio e sal fosfatado), mantidas em diferentes temperaturas (4ºC, 12ºC, 20ºC e 25ºC) foi completa após 21 dias para todas as temperaturas avaliadas. Entretanto, este resultado deve ser interpretado com cautela, uma vez que a inativação do vírus da PSA em produtos suínos tratados por salga depende de vários fatores, tais como, a concentração de vírus nos tecidos, a espessura do corte, a presença ou não de osso, a concentração de sal utilizada, a temperatura e o tempo de processamento.

É muito importante que a carne de animais infectados com o vírus da PSA não entre na cadeia alimentar, para evitar disseminação.

Um estudo publicado em 2018 avaliou a viabilidade do vírus da PSA em diferentes ingredientes utilizados na alimentação animal ou humana (farelo de soja, torta de soja, DDGS, hidrocloreto de lisina, vitamina D, cloreto de colina, ração de gato úmida, ração de cachorro úmida e seca e envoltório suíno/tripa), simulando o transporte internacional da Europa ou Ásia até os Estados Unidos. Destes ingredientes, apenas DDGS, hidrocloreto de lisina e vitamina D foram negativos para PSA.

Mesmo após 30 dias sob oscilações de temperatura e umidade, a carga viral nos demais ingredientes foi reduzida em aproximadamente 2 log (105 para 103), mas as partículas virais restantes permaneceram infecciosas. Em plasma de origem suína experimentalmente infectado pelo PSA, a adição de H2O2 (102,6 mM), associado ao pH alcalino (10,2) e aquecimento a 48ºC por 60 minutos garantiu a inativação do vírus.

De acordo com a North American Spray Dried Blood & Plasma Producers (NASDBPP) e a European Animal Protein Association (EAPA), as medidas de biosseguridade aplicadas ao processo de produção de ingredientes para ração derivados de sangue são efetivas na inativação do vírus da PSA.

O vírus é inativado em minutos em pH <4 ou >11,5, em temperatura de 60ºC por 30 minutos ou 56ºC por 70 minutos. Muitos solventes são capazes de inativar o vírus pelo rompimento do envelope lipídico viral, como o NaOH e Ca(OH)2 a 1% a 4ºC por 150 segundos, que resultam na redução de quatro vezes a carga viral inicial.

O uso de desinfetantes à base de amônia quaternária a 800ppm ou hipoclorito de sódio a 600ppm quando aplicados em superfícies de plástico, concreto ou aço por 10 minutos reduzem de 3,8 a 4,8 log, desde que não haja sangue ou suco de carne sobre estas.

Transmissão do vírus da PSA

A PSA é transmitida principalmente pelo contato direto entre suínos infectados e suscetíveis (domésticos ou asselvajados) ou através da ingestão de produtos de origem suína contaminados com o vírus. Carcaças de suídeos infectados que morrem e ficam no ambiente são fontes importantes de transmissão e resultam em outras formas de dispersão do vírus e da doença.

Secreções e fluidos corporais como sangue, saliva e sêmen podem conter o vírus da PSA. Estudos recentes têm indicado o importante papel de vetores como ratos, moscas e mosquitos que podem carrear o vírus, serem ingeridos pelos suínos ou picar, respectivamente, transmitindo a doença. Atenção também deve ser dada a fômites como veículos, ração, restos de comida, roupas ou calçados contaminados, dentre outros.

A transmissão e manutenção do vírus pode ocorrer tanto por ciclo silvestre quanto doméstico e a epidemiologia da doença varia em diferentes partes do mundo de acordo com o habitat, presença ou não de suídeos selvagens (de vida livre), de vetores (ex. Ornithodoros spp.) e dos tipos de criação.

Atualmente, diante da mudança na ocorrência dos recentes episódios de PSA na Europa, são reconhecidos quatro ciclos epidemiológicos com diferentes vias de transmissão viral:

  1. Ciclo silvestre: suídeos selvagens africanos (Phacochoerus africanus e Potamochoerus larvatus) e os carrapatos Ornithodoros spp. (ocorre na África Subsaariana)
  2. Ciclo do carrapato: carrapatos Ornithodoros spp. e suínos domésticos (Sus scrofa domesticus)
  3. Ciclo doméstico: suínos domésticos e consumo de produtos derivados de suínos infectados, como carne, sangue, gordura, ossos, medula óssea e peles
  4. Ciclo do javali-habitat: javalis selvagens (Sus scrofa scrofa), carcaças e produtos derivados de suínos e javalis, e o habitat.

Destes quatro, os ciclos doméstico e do javali-habitat têm sido detectados nos recentes surtos na Europa. No ciclo doméstico, os suínos infectam-se ao ingerir produtos cárneos de origem suína contaminados com o vírus da PSA, como salames e embutidos, oriundos de restos da alimentação humana. Após alguns dias, os suínos iniciam a eliminação viral por meio das secreções e excreções. Além disto, o vírus persiste no sangue e nos tecidos após a morte, tornando-se fonte de infecção para outros suínos.

O ciclo javali-habitat se caracteriza pela transmissão direta do vírus a partir do javali infectado aos suscetíveis e, indiretamente, por necrofagia intraespécie, pelo consumo de carcaças de javalis mortos pela infecção. Fatores climáticos, como temperatura e umidade, e decomposição das carcaças, associados aos fatores eco-epidemiológicos como tipos de manejo (ex. caça), disponibilidade de alimentos e a densidade populacional de javalis, influenciam a dinâmica de transmissão.

Apesar de cada ciclo epidemiológico ser independente, a transmissão inter-ciclos da doença pode ocorrer. Fatores antropogênicos associados à propagação pelos ciclos doméstico e javali-habitat têm favorecido a difusão do vírus em longas distâncias, contribuindo para a transmissão sustentada e ampliação da distribuição geográfica do vírus da PSA, como observado nos surtos recentes na União Europeia.

No Brasil, os suídeos asselvajados estão distribuídos em mais de 14 estados e, como a normatização para controle da espécie exótica é recente, atenção especial deve ser dada sobre a influência antrópica na difusão de doenças nestas populações.

Diagnóstico da PSA

A infecção de suídeos pelo vírus da PSA pode ser considerada baseada em achados clínico-patológicos e epidemiólogicos. A PSA é uma doença hemorrágica e lesões em linfonodos e baço são importantes. No entanto, a ocorrência de infecção subaguda, crônica e subclínica, principalmente em locais onde a enfermidade é considerada endêmica, pode dificultar o diagnóstico.

O diagnóstico diferencial dever incluir, primariamente, a PSC e, secundariamente, outras enfermidades como a salmonelose, erisipelose, pasteurelose, circovirose (PDNS), PRRSV, anthrax e intoxicação por anticoagulantes. O diagnóstico laboratorial deve ser realizado em laboratórios oficiais e as amostras de escolha são linfonodo, rim, baço, pulmão, sangue e soro.

As técnicas de diagnóstico mais frequentemente utilizadas para a detecção e identificação do vírus da PSA são a imunofluorescência direta (IFD), teste de hemadsorção e PCR. Devido a constantes mutações do vírus da PSA e surgimento de variantes, muitas vezes o sequenciamento é recomendado em testes de PCR falso-negativos com suspeita clínica.

O teste ouro confirmatório indicado pela OIE é o isolamento viral em cultivo celular e hemadsorção. Para programas de controle e erradicação da PSA é indicado o teste de ELISA para detecção de anticorpos.

Prevenção da entrada do vírus da PSA no Brasil

O Plano Integrado de vigilância de doenças de suínos do Programa Nacional de Sanidade Suídea (PNSS) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) contém orientações específicas para conter a PSA.

Adequar o sistema de vigilância baseado nos fatores de risco para PSA

  • Casos suspeitos devem ser reportados ao Serviço Veterinário Oficial Estadual
  • Diagnóstico rápido do vírus da PSA em laboratório oficial
  • A prevenção em países livres da doença depende de políticas de importação rigorosas, garantindo que nem os suínos vivos infectados nem os produtos de origem suína oriundos de países ou regiões afetadas pela PSA sejam introduzidos em áreas livres
  • Dentre as medidas de controle estão o descarte adequado (tratamento térmico) de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos provenientes de países com ocorrência da PSA

Conhecer as características da PSA e como evitá-la

  • Treinamento e capacitação de veterinários e produtores para reconhecer a doença
  • Caçadores que tenham participado de atividades de caça em países com ocorrência da PSA, não devem trazer subprodutos da caça para o país
  • Não alimentar suínos com produtos cárneos de origem suína, oriundos de restos da alimentação humana

Aplicar medidas de biosseguridade rigorosas para prevenir a introdução e disseminação do vírus.

Garantir apoio legal e recursos (fundos indenizatórios, diagnóstico, entre outros) para a implementação de medidas de controle.

Notificação, monitoramento e vigilância

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tem um Laboratório Oficial – Lanagro/MG, com capacidade para diagnóstico da PSA em casos suspeitos.

Frente à suspeita de infecção pelo vírus da PSA, comunique imediatamente a Agência Estadual de Defesa Agropecuária ou diretamente ao Programa Nacional de Sanidade Suína (PNSS) do Departamento de Saúde Animal (DSA) do Mapa.

Papel da Embrapa

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio da Embrapa Suínos e Aves, seu centro de pesquisa localizado em Concórdia-SC, tem o papel de fornecer informações sobre a doença e os impactos na cadeia produtiva de suínos, subsidiando a tomada de decisão dos órgãos competentes.

FAQ - Perguntas mais frequentes

Ambas são doenças virais graves que infectam o suíno, causando grandes perdas econômicas. Todavia, as doenças são causadas por vírus diferentes. A PSC é causada por um vírus da família Flaviviridae, gênero Pestivirus, de genoma RNA. Já a PSA é causada por um vírus DNA, família Asfarviridae, gênero Asfivirus. As duas doenças são semelhantes clinicamente, sendo necessário realizar diagnóstico laboratorial diferencial.

O Brasil tem um programa nacional para controle da PSC e atualmente grande parte do território é reconhecido internacionalmente como livre de PSC. A PSA já ocorreu no Brasil no final da década de 1970, foi erradicada e atualmente a doença é considerada exótica no país.

Tanto o vírus da PSC como o da PSA não causam doença em humanos.

São doenças diferentes, ambas são importantes. Todavia, a PSA é mais severa, sendo uma doença viral devastadora para suídeos, causando grandes perdas econômicas.

Como o próprio nome indica, o vírus da PSA surgiu na África, onde a doença é endêmica em muitos países africanos. O vírus se estabeleceu há muito tempo em um ciclo silvestre no leste e no sul da África, envolvendo transmissão entre os suídeos selvagens africanos (Phacochoerus africanus e Potamochoerus larvatus) e uma espécie de carrapato (Ornithodoros spp). Nestes hospedeiros, warthogs e bush pigs, não se observa doença.

Após a sua introdução em suínos domésticos no Quênia, nos anos 1920, a PSA disseminou-se para a maioria dos países da África Subsaariana. Em 1957, e novamente em 1960, a doença foi introduzida em Portugal por meio de restos de alimentos de aeronaves contendo produtos derivados de suínos contaminados com PSA. A doença permaneceu endêmica na Espanha e em Portugal desde aquela época até meados da década de 1990, espalhando-se posteriormente para outros países europeus (Itália, França, Holanda, Bélgica, Malta) e para a América do Sul e o Caribe.

No Brasil, o vírus foi identificado em suínos de subsistência, em Paracambi, no Rio de Janeiro, em 1978, que haviam sido alimentados com restos de alimentos de um voo proveniente de Portugal. A PSA foi erradicada em todos esses países, inclusive do Brasil, que é considerado livre. Em 1982 o vírus foi introduzido na Sardenha (Itália), onde permanece endêmico.

Em 2007, a PSA surgiu e se espalhou na Geórgia, sudeste da Europa. Em 2014 a PSA alcançou a Europa (Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia); em 2016, a Moldávia; e em 2017, a República Tcheca e a Romênia. Em setembro de 2018, o vírus da PSA foi detectado em suínos de subsistência na China e na Romênia e em javalis na Bélgica.

Em 2021 o vírus da PSA foi diagnosticado na República Dominicana, décadas depois de ter sido erradicado. A origem ou porta de entrada não está clara, mas a suspeita é de comércio ilegal de animais e trânsito de alimentos.

A PSA é causada por um vírus DNA, único membro da família Asfarviridae. Já foram identificados 23 genotipos diferentes do vírus da PSA. A maioria dos genotipos do vírus são altamente virulentos, ocasionando taxas de mortalidade elevadas.

O vírus da PSA tem o potencial de se espalhar rapidamente. A principal via de transmissão é pelo contato direto entre suínos infectados e suscetíveis (domésticos ou asselvajados) ou através da ingestão de produtos de origem suína contaminados com o vírus (esta tem sido frequentemente a via pela qual o vírus se disseminou por longas distâncias). Outra via de transmissão é por carrapatos, quando estes sugam o sangue de suínos infectados e depois se alimentam de outros suínos. O vírus se multiplica e pode sobreviver nos carrapatos. Além de suínos domésticos e asselvajados, o vírus infecta, mas não causa doença em suídeos selvagens africanos (warthogs e bush pigs).

  • Temperatura: o vírus é inativado a 56°C por 70 minutos ou a 60°C por 30 minutos.
  • pH: o vírus é inativado por pH <4 ou >11,5.
  • Desinfetantes: amônia quaternária a 800 ppm ou hipoclorito de sódio a 600 ppm quando aplicados em superfícies de plástico, concreto ou aço por 10 minutos.

O período de incubação do vírus da PSA é de 4 a 19 dias.

O vírus da PSA é transmitido por secreções nasais ou orais, picadas de carrapatos, ferimentos ou injeções. Assim, são consideradas como fontes de infecção, o sangue, tecidos, secreções e excreções de animais doentes e mortos. Os carrapatos do gênero Ornithodoros são vetores e podem transmitir o vírus.

Os sinais clínicos observados dependem da virulência da amostra, e via de transmissão, variando entre as formas aguda, subaguda e crônica.

  • Forma aguda:
    • Febre (40ºC a 42°C), leucopenia e trombocitopenia (48-72 horas)
    • Vermelhidão e hemorragias na pele - pontas das orelhas, cauda, extremidades distais e abdômen
    • Anorexia, apatia, cianose e incoordenação motora dentro de 24-48 horas antes da morte
    • Aumento da frequência respiratória
    • Podem ocorrer vômitos, diarreia (por vezes sanguinolenta) e secreções oculares
    • Abortos
    • Sobreviventes tornam-se portadores do vírus
    • Em suínos domésticos, a taxa de mortalidade geralmente se aproxima de 100%
          
  • Forma subaguda:
    • Sinais clínicos semelhantes à forma aguda, porém menos intensos
    • Duração da doença é de 5-30 dias
    • A taxa de mortalidade é mais baixa (por exemplo, 30-70%)
       
  • Forma crônica:
    • Perda de peso, picos irregulares de temperatura, sinais respiratórios, úlceras e necrose da pele, artrite
    • Pericardite, pleurite e edema nas articulações
    • Baixa mortalidade

As lesões observadas variam dependendo da forma de apresentação clínica da PSA:

  • Aguda: hemorragias extensas em órgãos internos (baço, linfonodos e rins), hidropericárdio, hidrotórax, ascite, edema no aparelho digestório. Baço aumentado de volume.
  • Subaguda: lesões similares às observadas na forma aguda, porém de intensidade moderada.
  • Crônica: alterações mínimas no trato respiratório ou ausentes.

Não. Suínos de todas as idades são suscetíveis ao vírus.

Depende da forma clínica apresentada (veja acima), mas pode chegar a 100% na forma aguda.

Suídeos (domésticos e asselvajados). O vírus da PSA não infecta humanos.

Existem várias vacinas em desenvolvimento por grupos de pesquisa no mundo, mas nenhuma no mercado. A vacina para PSA deve ser segura, sem efeitos colaterais (abortos) e sem reversão de virulência ou surgimento de mutações. Deve ser eficaz para produzir anticorpos neutralizantes e proteger contra mais de 20 variantes virais. Outro ponto importante é ser diferencial, que possa ser acompanhada de um teste laboratorial para identificar o suíno vacinado daquele infectado com vírus de campo. Testes estão sendo realizados na Espanha com uma vacina oral para javalis e têm apresentado resultados promissores.

Em resumo, não existe vacina comercialmente disponível. A prevenção em países livres da doença depende de políticas de importação rigorosas, garantindo que nem os suínos vivos infectados, nem os produtos de origem suína oriundos de países ou regiões afetadas pela PSA, sejam introduzidos em áreas livres. Dentre as medidas de controle estão o descarte adequado (tratamento térmico) de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos provenientes de países com ocorrência da PSA.

Países que se mantêm livres da PSA têm aplicado medidas de biosseguridade rigorosas em granjas para prevenir a introdução e a disseminação do vírus.

Não existe tratamento. É recomendada a eliminação do rebanho infectado e exposto ao vírus.

Contatar imediatamente o Serviço Veterinário Oficial Estadual.

Em casos de surtos, o Serviço Veterinário Oficial determinará as medidas a serem implementadas, seguindo as recomendações da OIE de sacrifício sanitário e demais formas de vazio e descontaminação. Os suinocultores que tiverem seus rebanhos depopulados serão indenizados.

A doença vai continuar se alastrando e os prejuízos para o país serão enormes.

As amostras de escolha para o diagnóstico são linfonodo, rim, baço, pulmão, sangue e soro. As técnicas de diagnóstico mais frequentemente utilizadas para a detecção e identificação do vírus da PSA são a imunofluorescência direta, teste de hemadsorção e PCR. Para programas de controle e erradicação da PSA é indicado o teste de ELISA para detecção de anticorpos.

O diagnóstico laboratorial deve ser realizado em laboratórios oficiais. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) possui Laboratório Oficial (Lanagro-MG), com capacidade para diagnóstico da PSA em casos suspeitos.

O Brasil possui um sistema de vigilância das síndromes hemorrágicas o qual inclui a realização de testes laboratoriais para PSA como diagnóstico diferencial de Peste Suína Clássica (PSC). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) está implementando cuidados nas fronteiras e na importação de produtos agrícolas e alimentos de países onde a PSA está ocorrendo.

O Plano Integrado de vigilância de doenças de suínos do PNSS e do Mapa contém orientações específicas para conter a PSA.

Não, pois é uma doença exótica no Brasil. Todavia, a Embrapa Suínos e Aves tem pesquisas em monitoramento de javalis e suídeos asselvajados na zona livre de PSC, o que pode embasar estudos e análises de risco para a PSA.

  • Evitar o contato de suínos asselvajados ou javalis com suínos domésticos.
  • Evitar a deposição de lixo ou restos de alimentos no ambiente que podem ser facilmente acessados por suídeos de vida livre.
  • Capacitar caçadores, esclarecendo sobre a doença e integrá-los ao controle da PSA.
  • Aumentar a vigilância em suínos domésticos em áreas de alto risco, ou seja, em áreas com risco de circulação de javalis, reforçando as boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais.

O Brasil, por sua importância na produção de suínos deve ter um bom sistema de alerta e um plano de contingência para todas as doenças, principalmente doenças exóticas como a PSA. Os pontos-chave para prevenção são:

  • Sistema de alerta eficaz
  • Treinamento e capacitação de veterinários e produtores
  • Conhecer as características da PSA e como evitá-la
  • Identificar os fatores de risco para PSA
  • Adequar o sistema de vigilância baseado nos fatores de risco para PSA
  • Diagnóstico rápido do vírus da PSA em laboratório oficial
  • Garantir apoio legal e recursos (fundos indenizatórios, diagnóstico, entre outros) para a implementação de medidas de controle
  • Aplicar medidas de biosseguridade rigorosas para prevenir a introdução e disseminação do vírus

Ambas são doenças transfronteiriças. É importante que o Brasil mantenha um bom sistema de alerta e um plano de contingência para as doenças exóticas como a PSA e a Influenza Aviária.

  • Países livres
    • Política de importação restrita para suínos vivos e produtos de origem suína oriundos de países com casos de PSA
    • Descarte adequado (tratamento térmico) de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos provenientes de países com ocorrência da PSA
       
  • Em surtos
    • É essencial o abate sanitário rápido de todos os suínos, eliminação adequada de cadáveres e limpeza e desinfecção completas das instalações
    • Designação da zona infectada, com controle de movimentação/trânsito dos suínos
    • Pesquisa epidemiológica detalhada, com rastreamento de possíveis fontes de infecção (up-stream) e possível disseminação (downstream) da infecção
    • Vigilância da zona infectada e da área circundante
       
  • Países com PSA endêmica
    • Em áreas endêmicas, é difícil eliminar o reservatório natural em javalis africanos; no entanto, o controle dos vetores de carrapatos é importante na prevenção da doença
    • Evitar que os suínos domésticos sejam alimentados com carne de javalis ou animais infectados
    • Evitar a criação de suínos soltos
    • Todos os programas bem-sucedidos de erradicação da PSA envolveram o rápido diagnóstico, abate e descarte de todos os animais em instalações infectadas, limpeza e desinfecção completas, desinsetização, controles de movimento e vigilância

O impacto econômico da introdução da PSA nos Estados Unidos foi estimado em 16,5 bilhões de dólares durante o primeiro ano do surto. Todavia, a manutenção da infecção em suínos é superior a isso. Em números relativos, baseado em custos de produção brasileiros versus o norte americano e número de suínos abatidos por ano, o impacto no Brasil é estimado em um terço desse valor, ou seja, aproximadamente US$ 5,5 bilhões apenas no primeiro ano.

Vídeos

  • Brasil livre de PSA
    Vídeo produzido pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
  • Peste Suína Africana: como estar um passo à frente
    Vìdeo produzido pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA)

Artigos e links úteis

Artigos

Os artigos a seguir fazem referência ao surto de PSA ocorrido no Brasil nos anos 1970-1980 e podem ser baixados em versão PDF.

 

Links