18/07/17 |   Pesca e aquicultura

Planta da Amazônia é usada para agregar ômega 3 ao tambaqui

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Foto: Síglia Souza

Síglia Souza -

Pesquisa desenvolvida na Embrapa Amazônia Ocidental (AM) conseguiu resultados promissores ao buscar aumentar a quantidade de ácido graxo ômega 3 no tambaqui (Colossoma macropomum), peixe nativo de grande importância nacional. Experimentos com rações enriquecidas com a planta amazônica Sacha Inchi (Plukenetia volubilis), rica em ácido linolênico (ômega 3), foram fornecidas aos animais na fase juvenil que absorveram o nutriente.

Trata-se de um importante passo para agregar valor nutricional ao peixe, uma vez que o ômega 3, relacionado ao combate de doenças cardíacas, está naturalmente presente em maiores quantidades em algumas espécies de peixes de águas frias, e o tambaqui, nativo da Bacia Amazônica, possui pouca quantidade desse nutriente. Os resultados foram obtidos por meio da pesquisa intitulada “Sacha Inchi na nutrição de juvenis de tambaqui”, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenada pelo pesquisador da Embrapa Jony Dairiki.

A Sacha Inchi é uma planta nativa da Amazônia, cultivada comercialmente na Amazônia Peruana com potencial de produção no Brasil. No Peru, agricultores têm se organizado em cooperativas com a finalidade de produzir a planta para atender a demanda de produção de óleo. O óleo de Sacha Inchi possui vitaminas A e E, além de ser rico em ácidos graxos poli-insaturados, como os ômegas 3, 6 e 9. Esses ácidos graxos são relacionados à prevenção de doenças cardiovasculares, entre outros benefícios para a saúde humana.

De acordo com Dariki, que atua na área de nutrição e alimentação de espécies aquícolas da Amazônia, houve um bom desempenho zootécnico dos juvenis de tambaqui alimentados com as rações experimentais elaboradas com os três ingredientes da Sacha Inchi (sementes, folhas e torta de extração do óleo) e também foram registradas uma alta taxa de sobrevivência e uma boa aceitação das rações experimentais. O melhor resultado foi obtido com a ração elaborada com a inclusão das sementes. No grupo alimentado com esta ração, além do crescimento houve um acréscimo de ácidos graxos poli-insaturados na carcaça dos animais, especialmente o ácido linolênico (ômega 3) e desta forma foi comprovada a agregação do valor nutricional no peixe.

Nos experimentos, foram avaliados peixes juvenis que ao término dos ensaios pesavam em torno de 30 gramas. A fase juvenil engloba o período em que o animal ainda não atingiu 100 gramas de massa, também chamada fase de recria. Esses primeiros resultados mostraram o potencial do peixe em assimilar e incorporar o ácido graxo ômega 3 na sua composição corporal. Ainda que as avaliações sejam feitas na fase inicial de criação do tambaqui, os resultados positivos abrem perspectivas para que sejam feitas mais investigações avaliando a inclusão da planta em rações para as outras fases de criação do tambaqui. O pesquisador pretende conduzir futuros experimentos com peixes maiores em fase de engorda ou terminação (próximo ao abate) para comparar os resultados.

Rações enriquecidas com ômega 3

Também chamado de óleo Inca, o óleo de Sacha Inchi é um produto nobre, valorizado no mercado por seu alto teor de ácido graxo ômega 3. A principal proposta da pesquisa foi aproveitar partes residuais da planta que pudessem ser incluídas na ração e agregar valor nutricional ao peixe.

Foram utilizadas três formas de inclusão da Sacha Inchi na nutrição de juvenis de tambaqui. Em uma delas, as sementes da planta foram trituradas e incorporadas aos demais ingredientes para fabricação das rações experimentais. Em outra, as folhas foram secadas em estufa e moídas para inclusão nas rações. E na terceira foi incluída a torta residual obtida após a extração experimental do óleo das sementes.

Os experimentos avaliaram seis níveis de inclusão das sementes, folhas e torta residual da extração do óleo de Sacha Inchi em 10 %, 20%, 30%, 40%, 50 % além do controle − ração sem a Sacha Inchi. Grupos de peixes foram alimentados por 60 dias contínuos com as rações experimentais em duas refeições diárias até a saciedade aparente. Os parâmetros de qualidade da água foram monitorados e se mantiveram adequados durante todo o período experimental.

Foram avaliados também os parâmetros de desempenho zootécnico, composição corporal dos peixes, perfil de ácidos graxos e análises fisiológicas complementares. No desempenho zootécnico, foram avaliados o ganho de massa, o consumo de ração, a taxa de conversão alimentar, a taxa de crescimento específico e a sobrevivência dos animais.

Ao término dos experimentos, foram determinados os níveis ótimos de inclusão dos produtos avaliados. No experimento em que foram incluídas as folhas trituradas, foi determinada a inclusão ótima de 10% das folhas que promoveu o melhor desempenho zootécnico. Entretanto, ao se analisar as folhas da Sacha Inchi e as rações experimentais com a inclusão deste produto, não houve o acréscimo do ácido graxo ômega 3 nessas amostras, por este motivo não foi avaliado o perfil de ácidos graxos na carcaça dos peixes deste ensaio.

Já no experimento com a torta residual da extração do óleo, foi determinada a inclusão ótima de até 40% sem prejuízo ao desempenho zootécnico. Este é considerado outro ponto de destaque da pesquisa, pois utilizar até 40% de um resíduo (sem valor comercial) na nutrição do peixe, acrescenta uma finalidade útil para aproveitamento do resíduo, além de diminuir o custo da ração.

Das três formas de inclusão, a ração com sementes foi a que proporcionou o maior acréscimo de ácidos graxos poli-insaturados, especialmente com o ácido graxo ômega 3. O nível ótimo determinado ocorreu com a inclusão de 10% das sementes na ração. O grupo controle, sem inclusão da Sacha Inchi, apresentou uma porcentagem de ácido alfa-linolênico (ômega 3) de aproximadamente 0,2% na composição centesimal. Comparado ao grupo controle, houve um acréscimo significativo do ácido graxo ômega 3 na composição corporal dos animais que se alimentaram com a ração contendo 10% de sementes de Sacha Inchi, que apresentaram porcentagem aproximada de 0,6% de incorporação do ômega 3.

Alternativa para agregar valor nutricional

Existem  pesquisas desenvolvidas pela Embrapa com o propósito de encontrar  ingredientes não convencionais para inclusão nas rações de peixes, principalmente para o tambaqui, que é a principal espécie de peixe nativa criada em âmbito nacional. O tambaqui é um peixe onívoro, ou seja, se alimenta tanto de ingredientes de origem animal ou vegetal. Nas rações não convencionais, a meta é agregar valor nutricional e reduzir custos, mantendo condições de bom desempenho zootécnico e de boa qualidade do produto final.

A ração é o item mais oneroso no sistema de produção do tambaqui. “Para diminuir o custo, as fábricas de ração costumam utilizar fontes lipídicas de baixa qualidade e o peixe reflete essa condição em sua musculatura. Isso motivou a pesquisa a agregar valor nutricional à composição corporal do peixe com ingredientes ricos em ácidos graxos poli-insaturados”, explica o pesquisador Jony Dariki.
 

Diversidade de Sacha Inchi

A Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus, possui um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Sacha Inchi com 37 acessos dessa planta. Alguns estudos sobre essa espécie vegetal a partir do BAG geraram teses em parceria com universidades brasileiras. Estudos sobre diversidade, caracterização botânica, genética e pesquisas agronômicas vêm sendo realizados sobre a planta amazônica.

Cultivos experimentais conduzidos em Manaus pela Embrapa mostram que a germinação ocorre em torno de 13 dias e que, após 40 dias de cultivo em bandejas, pode ser levada ao campo para plantio definitivo. “Embora as pesquisas estejam em andamento, já verificamos que as plantas permanecem em produção por até quatro anos, apresentando ao longo do ano alguns picos de produção”, informa o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Francisco Celio Maia Chaves, responsável por pesquisas sobre o cultivo da planta.

Chaves informa que no período de produção no Amazonas, são feitas duas colheitas semanais. Pelo fato de o fruto ser deiscente (que abre naturalmente quando fica maduro), um maior intervalo de tempo entre colheitas pode levar à perda da semente, que é lançada no ambiente. No cultivo no Amazonas, tem se adotado o espaçamento de dois metros entre plantas e de quatro metros entre fileiras, com plantas tutoradas. No período seco, tem se utilizado o uso de irrigação por gotejamento. A produção tem sido menor no período de chuva intensa, pois prejudica a polinização.

 

O ômega 3

A médica Evelyn de Paula, que possui pós-graduação em nutrologia, explica que o ômega 3 trabalha no organismo humano na prevenção das doenças do risco cardiovascular e na prevenção de algumas enfermidades neurodegenerativas como, por exemplo, a doença de Parkinson e o mal de Alzheimer e outras demências em geral. A nutróloga esclarece que o ômega 3 é um ácido graxo essencial e, assim como os aminoácidos essenciais, nosso corpo não produz essa substância, mas absorve de fontes externas por meio da alimentação ou da suplementação. O ômega 3 é mais encontrado em alguns peixes, principalmente os de águas geladas e profundas. Sardinha, salmão e arenque são exemplos que mais se destacam com a substância. Porém, pesquisas com peixes amazônicos têm indicado também a presença de ômega 3, em menor quantidade. Alguns vegetais contêm a substância, ainda em menor quantidade que nos peixes. A linhaça é uma das fontes vegetais de ômega 3, além da Sacha Inchi.

 

Síglia Souza (MTb 066/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental

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